terça-feira, 3 de junho de 2008

Freddy vs Jason


Texto escrito por Anderson Merisio
"Bem-vindo ao meu pesadelo!"
Quando dois dos maiores ícones populares do cinema de horror moderno, Freddy Krueger e Jason Voorhees se encontram mortalmente num mesmo filme, o que se pode esperar é logicamente muita carnificina explícita e uma profusão de sangue para todos os lados. E é exatamente isso o que acontece no crossover "Freddy x Jason", que entra em cartaz nos cinemas brasileiros em 31 de Outubro de 2003 (pouco mais de dois meses depois da estréia nos Estados Unidos em meados de Agosto). O filme foi marcado principalmente por uma incrível overdose de violência e sangue, honrando com méritos a história das respectivas franquias (que já totalizam 17 filmes em mais de duas décadas), e destaca-se também pelo oportuno resgate que foi realizado trazendo novamente o clima característico dos filmes de horror "slasher" dos saudosos anos 80.Ao longo de um século de história do cinema de horror, foram se formando naturalmente uma infinidade de categorias dentro dessa temática básica do gênero fantástico. Entre todas elas, os filmes que apresentavam como protagonistas psicopatas violentos e assassinos seriais foram ganhando um destaque maior na filmografia do horror principalmente a partir dos anos 1970, um período fértil onde começaram a surgir vários monstros sagrados e eternizados pelos apreciadores do estilo como o maníaco Leatherface ("O Massacre da Serra Elétrica"), os mascarados Michael Myers ("Halloween") e Jason Voorhees ("Sexta-Feira 13" / "Friday the 13th"), vindo depois em meadosdos anos 80 o sarcástico Freddy Krueger ("A Hora do Pesadelo" / "A Nightmare on Elm Street") e o demônio Pinhead ("Hellraiser"), culminando na década de 90 com o carniceiro aristocrático Dr. Hannibal Lecter ("O Silêncio dos Inocentes"), citando apenas os principais. Eles foram os responsáveis pela produção de dezenas de filmes, destacando-se de forma unânime os primeiros de cada respectiva série, e sendo muitos deles com roteiros ruins que acabaram desgastando nitidamente suas imagens. Mas um fato que sempre foi claro para os produtores era que esses monstros do horror moderno despertavam grande fascínio e interesse popular, justificando a insistência em permanecer seus legados nas telas, conseguindo conquistar cada vez mais novos públicos. Em 1987, no auge desses filmes com psicopatas assassinos, surgiu a primeira idéia de se juntar dois desses anti-heróis numa mesma produção, e os escolhidos foram os mais populares, o falador Freddy Krueger e o silencioso Jason Voorhees, ambos extremamente violentos e com incrível contagem de cadáveres em seus currículos. Porém, problemas técnicos entre as produtoras "New Line" (A Hora do Pesadelo) e "Paramount" (Sexta-Feira 13) impediram um acordo para a realização do filme. Após 15 anos de muitas especulações e intensas movimentações nos bastidores, finalmente em 2003, uma época onde a tendência dos crossovers está saindo dos papéis e ganhando a realidade das telas do cinema (como podemos notar na união de dois monstros modernos da Ficção Científica com elementos de Horror, "Alien VS Predador"), o tão aguardado confronto entre Freddy e Jason nasce das mãos do produtor Sean S. Cunningham, criador da série "Sexta-Feira 13", do diretor nascido em Hong Kong Ronny Yu, mais conhecido pelo filme "A Noiva de Chuchy" (1999), quarto exemplar da saga do famoso boneco assassino, e dos jovens roteiristas Damian Shannon e Mark Swift, fãs declarados das franquias.Novamente trazendo o ator Robert Englund como o vilão Freddy Krueger (ele que interpretou o personagem em todos os filmes da série) e Ken Kirzinger como seu oponente Jason Voorhees (o ator estréia na pele do assassino, que anteriormente foi interpretado quatro vezes pelo dublê Kane Hodder, descartado agora), o filme mostra Freddy aprisionado no inferno, sem energias para surgir novamente nos pesadelos de suas vítimas, as quais são sedadas por drogas experimentais num hospital psiquiátrico que as impedem de sonhar.Uma vez abandonado no esquecimento, sem receber a força proveniente do medo das pessoas, Freddy planeja seu retorno à ativa utilizando a ajuda inconsciente do psicopata Jason, despertando-o de seu profundo sono e ressuscitando-o de seu túmulo. Manipulando seu adversário através da imagem de sua falecida mãe Pamela Voorhees (Paula Shaw), Freddy incita-o a atacar a cidade de Springwood e mais precisamente os moradores da Rua Elm, para continuar sua vingança àqueles que o queimaram vivo no passado, recuperando sua potência sobrenatural e perpetuando a chacina de suas vítimas em seus sonhos.Jason ressurge sedento de sangue e mais violento do que nunca, e com seu enorme facão retalha impiedosamente todos que cruzam a sua frente, num banho de sangue de proporções descomunais, com direito a decapitações, vísceras expostas, desmembramentos, com suas vítimas sentindo a terrível dor de uma lâmina dilacerando brutalmente suas frágeis carnes. Freddy por sua vez volta a recuperar as forças e também a aterrorizar suas vítimas penetrando em seus sonhos e rasgando seus corpos com sua tradicional luva feita de afiadas lâminas. Porém, fica irritado pelo descontrolado Jason matar indefinidamente e roubando dele algumas vítimas. Quando Freddy consegue se transferir para o plano real, saindo do mundo onírico, ele passa a enfrentar mortalmente seu rival Jason num confronto de ultra violência, em meio a um grupo de jovens adolescentes que tenta sobreviver aos ataques de ambos, formado pelo casal principal Lori Campbell (Monica Keena) e Will Rollins (Jason Ritter), além de Kia (Kelly Rolland) e Charlie Linderman (Christopher George Marquette), entre vários outros que sentiram a fúria sangrenta de Freddy e Jason.Para se assistir um filme como "Freddy x Jason" é fundamental em primeiro lugar você esquecer completamente a lógica do roteiro e procurar entrar no clima de uma produção repleta de fantasia, clichês e situações inverossímeis. Para se ter uma idéia, até um dos personagens do filme fica a todo momento (enquanto está vivo, é claro) respondendo que tudo é possível quando alguém resolvia perguntar sobre a ocorrência de fatos totalmente absurdos existirem realmente. Uma vez desconsiderando a razão e os motivos de uma série de acontecimentos que envolvem a conduçãoda história, certamente o espectador vai se divertir com o show de imagens sangrentas que se apresentará a sua frente, manchando a tela de vermelho, não escapando nem os letreiros.Dentre os clichês extremamente desgastados, estão as inúteis tentativas de assustar as pessoas com as tradicionais cenas onde o volume do som é aumentado excessivamente e de forma repentina numa fração de segundos. Nada mais óbvio e sem graça... Não faltam também as tentativas de humor forçado com o uso de piadas idiotas proferidas por adolescentes mais estúpidos ainda, e é claro, não poderia faltar o uso de drogas e sexo num desfile de personagens arquetípicos que apenas nos fazem torcer fervorosamente para serem massacrados das formas mais insanas e dolorosas possíveis pelos vilões psicopatas.De positivo em "Freddy Vs Jason" temos o fato claro de que o filme tem um ritmo acelerado de muita ação, correrias, barulhos, porradas e sangue para todos os lados, sem perder muito tempo com diálogos inúteis que em nada ajudariam na composição do roteiro que, repito, não está muito interessado (e nem poderia estar) em situações lógicas. O filme tem o cuidado especial de oportunamente esclarecer para o público que não conhece o universo ficcional das franquias a origem dos vilões e suas mitologias básicas, as quais foram exploradas nos diversos filmes posteriores de ambos os psicopatas. E muitos desses filmes foram completamente desconsiderados na história do crossover, fato totalmente compreensível até porque as próprias séries já tiveram filmes anunciando as mortes de seus vilões e os números das bilheterias forçaram seus ressurgimentos em argumentos muitas vezes ridículos. Outros momentos interessantes foram que no início do filme, tanto Jason Voorhees como Freddy Krueger estiveram bem à vontade em seus ambientes naturais, realizando suas chacinas no melhor estilo de seus primeiros filmes ao longo da década de 1980, num oportuno resgate e homenagem ao cinema de horror com psicopatas produzido naquela época. Um destaque notável foi um massacre cometido por um Jason enfurecido com sua enorme faca, contra um grupo de jovens que estavam dançando ao som de música eletrônica numa clareira no meio de uma plantação de milho. A música dançante foi substituída pelo som da faca cortando a carne dos adolescentes e pelo fluxo do líquido vital deles irrigando o milharal.Porém, a partir do momento em que eles se confrontam num duelo de morte, o que prevalece é apenas a incrível exposição de violência dos golpes entre ambos, pois não é possível se esperar algo mais interessante numa briga envolvendo duas entidades sobrenaturais e praticamente invencíveis. O resultado passa a ser um show de desmembramentos, objetos cortantes dilacerando a carne, rasgos profundos na pele jorrando sangue em profusão, e todos os tipos de atrocidades imagináveis entre duas criaturas completamente possuídas e guiadas pelo ódio e insanidade. E inevitavelmente nesse momento o filme perde um pouco de seu interesse, deixando claro para mim que seria muito melhor se eles, ao invés de se enfrentarem, unissem suas forças demoníacas para ampliar seus domínios e intensificar seus planos de vingança num massacre cada vez mais efetivo. E então o filme não seria "Freddy Vs Jason" e sim ambos os vilões juntos contra a escória da humanidade... Após uma quantidade exagerada de cenas violentas no duelo entre os vilões, o filme se conclui com um desfecho satisfatório e totalmente interpretativo sobre os resultados deixando obviamente uma oportunidade para uma futura sequência da franquia. Enfim, um filme com uma carga de violência que honra as origens de seus protagonistas e que certamente garantirá ótimos momentos de entretenimento para os apreciadores do cinema de horror com psicopatas assassinos. Para quem entrar no clima e proposta de "Freddy Vs Jason", desconsiderando os clichês e lógica do roteiro, terá aproximadamente uma hora e meia de diversão garantida sem compromisso.FREDDY VS JASON(Freddy vs. Jason, EUA, 2003). New Line, 98 minutos Direção: Ronny YuRoteiro: Damian Shannon e Mark Swift, baseados em personagens criados por Wes Craven e Victor Miller. Produção: Sean S. CunninghamProdução Executiva: Douglas CurtisFotografia: Fred Murphy Música: Graemme RevellEdição: Mark StevensDireção de Arte: Ross DempsterDesenhos de Produção: John WillettEfeitos Especiais: Bill Terezakis Site Oficial: www.freddyvsjason.com Elenco: Robert Englund (Freddy Krueger), Ken Kirzinger (Jason Voorhees), Monica Keena (Lori Campbell), Jason Ritter (Will Rollins), Kelly Rowland (Kia), Katharina Isabelle (Gibb), Christopher George Marquette (Charlie Linderman), Brendan Fletcher (Mark Davis), Tom Butler (Dr. Campbell), Lochlyn Munro (Deputado Scott Stubbs), Kyle Labine (Freeburg), Zack Ward (Bobby Davis), Paula Shaw (Pamela Voorhess), Gary Chalk (Xerife Williams), Jesse Hutch (Trey), David Kopp (Blake), Brent Chapman (Pai de Blake), Alistair Abell (Oficial Goodman), Robert Shaye (Diretor Shaye).

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