terça-feira, 3 de junho de 2008

A hora do pesadelo 3: Os guerreiros dos sonhos


Texto escrito por Anderson Merisio
Depois do fracasso de crítica da parte 2, os produtores resolveram que trazer Freddy Krueger para o mundo real não era uma boa idéia. Além do mais, se ele voltasse a atacar no mundo dos sonhos, poderiam criar cenas fantásticas e repletas de efeitos especiais, mostrando a transformação do vilão em monstros diversos e especialmente mortes mais criativas, diferentes das tradicionais navalhadas. Ironicamente, é a partir desta terceira parte que a franquia começa a desandar, transformando Freddy Krueger no herói da trama e apostando mais nos efeitos especiais do que propriamente na história. Não basta mais mostrar Freddy esquartejando jovens com suas navalhas, e sim bolar mortes criativas para cada vítima, de preferência baseadas nas características de cada uma. Exemplo: Freddy encara uma ex-viciada e suas navalhas se transformam em seringas cheias de heroína. Ele espeta a droga na jovem e fala "What a rush!" ("Que viagem!") enquanto ela morre de overdose. Logo, um Freddy Krueger bem distante daquele assassino assustador dos dois primeiros filmes, que praticamente não falava, mas em compensação retalhava sadicamente as suas vítimas. O pior é que "A Hora do Pesadelo 3" ainda tenta contar uma história, embora depois dos primeiros 40 minutos se perca no festival de efeitos especiais e se torne totalmente chato e repetitivo. Personagens do filme original voltam repetindo seus papéis, para dar alguma relação com as histórias anteriores. É neste filme, também, que se explica a origem de Freddy. O filme começa tétrico, com uma frase de Edgar Allan Poe que diz: "Sonhos. Estes pequenos pedaços de morte. Como eu os odeio!". Brrrrr... Entra aquela música tétrica da série e logo aparece a jovem Kristen (Patricia Arquette, que depois ficaria famosa) lutando para não adormecer. O que, claro, não acontece. Ela sonha que visita a tenebrosa casa na rua Elm, agora abandonada, onde encontra várias vítimas de Freddy. Quando acorda, Kristen vai até o banheiro e é atacada por Freddy, que a faz cortar os próprios pulsos.O primeiro pesadelo é interessante e até faz o espectador acreditar que está diante de um legítimo episódio de "A Hora do Pesadelo". É especialmente criativa a cena em que Kristen entra numa sala repleta de adolescentes enforcados, simbolizando as almas das outras vítimas do assassino.
Logo depois da "tentativa de suicídio", Kristen é internada pela mãe em uma clínica onde também estão outros jovens problemáticos que aparentemente tentaram se matar. Na verdade, todos vêm sonhando com Freddy, que quer matá-los um por um fazendo parecer que é suicídio. Os jovens são o clichê padrão neste tipo de filme: há um paralítico, um mudo, um negro, uma jovem viciada, um falador que constrói marionetes e a jovem esquisita que sonha em ser atriz de TV. Todos são tratados pelo psiquiatra dr. Neil Gordan (Craig Wasson, de "
Dublê de Corpo", tentando dar alguma seriedade ao filme). A história começa a ganhar relação com o original quando entra em cena uma nova psicóloga: trata-se de Nancy Thompson, a única sobrevivente do filme original (e novamente interpretada por Heather Langenkamp). Ela sabe o que existe por trás das tentativas de suicídio dos jovens, e tenta ajudá-los por meio de hipnose e de remédios que inibem o sono. Mas Freddy não desiste e vai matando os jovens um a um.O vilão economiza suas navalhas neste filme. Em uma das mortes mais famosas, ele acaba com a jovem que queria ser atriz esmagando sua cabeça contra a tela da TV, quando ela adormece em frente ao aparelho. "Bem-vinda ao horário nobre, vagabunda!", diz Krueger, antes de acabar com a vida da mocinha. Em outro momento, Freddy dá cabo do falante construtor de marionetes transformando o próprio rapaz em uma marionete, usando filetes de músculos com se fossem cordas para controlá-lo (a única cena realmente impressionante do filme).
A trama ainda sofre uma reviravolta quando Nancy descobre que a jovem Kristen tem o poder de chamar pessoas para dentro de seu sonho (ou pesadelo). Ela então faz uma sessão de hipnose coletiva e todos se encontram no pesadelo, onde descobrem que podem se materializar, como Freddy, naquilo que mais desejam (o paralítico vira um mago, a viciada uma punk, o negro fica superforte, e por aí vai). Não que algum destes superpoderes realmente adiante alguma coisa contra Freddy, que continua sendo o rei absoluto do mundo dos pesadelos. A única forma de destruí-lo está no mundo real, onde o dr. Neil tenta encontrar o policial Donald, pai de Nancy, para recuperar os restos mortais de Freddy e enterrá-los em solo sagrado, a única forma de dar descanso ao psicopata.Esta terceira seqüência até tem alguns bons momentos, mas no geral se perde em suas pretensões. Quando os jovens começam a se encontrar dentro do sonho e adquirem superpoderes para lutar com Freddy, o filme se transforma em uma espécie de palhaçada (infelizmente, este foi o rumo tomado pelos produtores nas seqüências seguintes), mais para um filme de fantasia do que para um verdadeiro filme de horror. Em comparação, é como se o diretor fosse Chris Columbus (de "Esqueceram de Mim"). Nada lembra o filme original de
Wes Craven.Além de Heather, John Saxon, que interpreta seu pai no primeiro filme, também está de volta nesta continuação. E o elenco tem ainda Larry Fishburne (o Morpheus de "Matrix") numa pequena participação como um dos enfermeiros, e a gatinha Jennifer Rubin como interna do manicômio. Ela faria outro filme de horror sobre pesadelos, chamado "Sonhos Mortais".
Sinceramente, acho que "
A Hora do Pesadelo 3" é vazio e não funciona a não ser para o público infanto-juvenil. Uma que os personagens não convencem em nenhum momento, nem mesmo a própria Nancy, que, reparem, não faz quase nada no filme e ainda tem um final inglório. Outra que há furos demais no roteiro. Por exemplo: a certas alturas, aparece o fantasma de Amanda Krueger, a mãe de Freddy, para contar a origem do psicopata e explicar ao dr. Neil o que fazer para acabar com o assassino de uma vez por todas. Pergunta: por que o fantasma aparece apenas para o psiquiatra? Não seria mais lógico aparecer para Nancy, que tinha vivido até um episódio traumático anterior em relação a Freddy? Ou para os outros jovens internados? E reparem que quando o dr. Neil encontra Donald, o pai de Nancy, este não acredita que Freddy existe - mesmo tendo visto o monstro matar sua ex-esposa no final de "A Hora do Pesadelo 1"!!! "A Hora do Pesadelo 3" não tem grandes momentos de medo e violência, diferente do que acontecia nos dois primeiros filmes. Predomina, isso sim, um aspecto de videogame, onde os efeitos especiais são mais importantes que a história. O filme está mais para uma sessão da tarde (e de fato já foi exibido no velho Cinema em Casa, do SBT, que passava lá pelas duas da tarde) do que para um bom filme de horror. E a tendência da série era piorar cada vez mais.
CURIOSIDADES- Convidado pelos produtores,
Wes Craven escreveu um roteiro original que misturava realidade e ficção. O argumento foi totalmente reescrito pelo diretor Chuck Russell, enfurecendo Craven, que desligou-se definitivamente da série. Até que, anos depois, foi convidado pela New Line para dirigir uma sétima parte de "A Hora do Pesadelo" e retomou a idéia que tinha bolado para esta terceira parte. - Logo no início, há uma cena em que um porco assado sobre a mesa de jantar adquire vida e tenta morder Kristen. Como a grana dos efeitos especiais era limitada, a produção não tinha recursos para construir um boneco, então usou um verdadeiro porco assado. Por baixo da mesa, o técnico de efeitos especiais usou a mão para mexer o animal. - No primeiro tratamento do roteiro, os dois amigos de Kristen - Kincaid e Joey - eram mortos por Freddy no final (eles acabaram morrendo somente na parte 4), assim como a psiquiatra dra. Elizabeth Simms. - Priscilla Pointer, que interpreta a dra. Simms no filme, é mãe da atriz Amy Irwing, que foi casada com Steven Spielberg. Amy apareceu em "Carrie, A Estranha" e "A Fúria", ambos de Brian DePalma. - A cena em que Craig Wasson é enterrado vivo pelo esqueleto de Freddy é uma homenagem ao filme "Dublê de Corpo", também de Brian DePalma, feito em 1984 - e onde o mesmo Wasson tem destino semelhante. - Antes de ter a cabeça esmagada por Freddy contra o aparelho de TV, Jennifer assiste a uma cena do filme "Criaturas", de Stephen Herek. - Uma cena do filme foi cortada pela censura americana e não foi incluída nem na versão lançada pela Warner no Brasil (mas está no DVD importado): quando Joey é seduzido pela enfermeira, ela tira a roupa e deita sobre o rapaz. Aí entra a cena cortada: seu rosto se transforma no de Freddy, mas com o mesmo corpo perfeito da modelo Stacey Alden. Para ironizar, Freddy diz: "O que há de errado, Joey? Pensei que você gostava do meu corpo!".- Robert Englund improvisou a famosa fala "Bem-vinda ao horário nobre, vagabunda!", que Freddy diz antes de esmagar a cabeça de Jennifer contra a TV. Esta frase não estava no roteiro.
A Nightmare On Elm Street 3: Dream Warriors (EUA, 1987) Direção: Chuck Russell Com: Heather Langenkamp, Patricia Arquette, Craig Wasson, Larry Fishburne, John Saxon e Robert Englund..Duração: 97 minutos Lançado em vídeo pela Warner

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