terça-feira, 3 de junho de 2008

A hora do pesadelo 5: O maior horror de Freddy


Texto escrito por Anderson Merisio
O verdadeiro subtítulo desta quinta continuação é "The Dream Child", mas a distribuidora nacional quis vender seu peixe e anunciou "o maior horror de Krueger", quando, na verdade, trata-se de apenas mais um filme mediano na linha de tudo o que foi feito na franquia a partir da parte 3. Ou seja: muito rock na trilha sonora, um show de efeitos especiais e as tiradas divertidas de Freddy matando o clima de mistério e horror que reinava nos dois primeiros filmes. A surpresa é que esta parte 5 realmente é interessante, diferente das horríveis partes 4 e 6. Mesmo com os exageros típicos da série, o filme ainda mantém a atenção do espectador com alguns momentos um pouco mais fortes, apesar da história ser totalmente ridícula. É preciso lembrar, entretanto, que o filme foi produzido exatamente no momento em que Freddy Krueger estava no auge, com a popularidade em alta entre a garotada do mundo inteiro. O cara já tinha até uma série de TV própria, coisa que nem o Jason conseguiu (apesar de existir uma série chamada "Sexta-feira 13 - O Legado", ela nada tinha a ver com Jason). Além disso, vendia pôsteres, revistas em quadrinhos, álbuns de figurinhas, brinquedos e qualquer outra coisa que tivesse a sua "carinha linda". Lembra das luvas de brinquedo do Freddy lançadas pela Glasslite? Pois é, foi mais ou menos nesta época.
Nestes termos de 'Freddy superstar", qualquer porcaria com o nome "Freddy Krueger" ou "Nightmare on Elm Street" vendia horrores. Por isso, os produtores nem tinham qualquer intenção de tentar uma variação na série. Afinal, já tinham tentado isso com a mal-sucedida parte 2 e deu no que deu. Freddy estava nas graças do público? "Ótimo, então façam um filme mais ou menos igual ao outro que vai dar bilheteria igual!", deve ter recomendado algum alto executivo da New Line Cinema. Até o próprio
Robert Englund aproveitou para tirar sua casquinha, pedindo um salário maior (metade do orçamento do filme, praticamente). Enquanto isso, Wes Craven andava puto da cara com a New Line porque eles faziam filmes atrás de filmes com o personagem que ele inventou e não lhe pagavam royalties. Entendam: na época, Freddy Krueger era a maravilha da New Line, então ainda uma produtora pequena. Hoje a mesma New Line produz filmes do cacife da trilogia "O Senhor dos Anéis", mas no final dos anos 80 Freddy Krueger era a grande mina de ouro da empresa, que espremeu o bagaço até o fim sem vergonha na cara. Bem, voltando ao "A Hora do Pesadelo 5", o detalhe curioso é o retorno do casal Alice e Dan (interpretados pelos mesmos Lisa Wilcox e Danny Hessel do filme anterior). Este já começa com o casal transando, só para não perder tempo no "plot": Alice engravida e Freddy Krueger, que estava aprisionado no "limbo", retorno graças aos sonhos do bebê.
E é isso. Não há mais nada a contar sobre o roteiro. Uma vez livre da sua "prisão", Freddy começa a matar os amigos de Alice e seu próprio namorado, ao mesmo tempo em que caça a própria heroína. São apenas três mortes no filme inteiro, mas elas valem por não apelar para o humor puro e simples. A de Dan está entre as melhores da série: ele adormece enquanto dirige e tem seu corpo fundido ao de uma motocicleta. O resultado é um "homem-máquina" bizarro e ensangüentado que lembra os melhores desenhos de H. R. Giger! (Detalhe: a cena sofreu severos cortes nos EUA devido à sua extrema violência).A morte engraçadinha do filme é a de Greta (Erika Anderson), nova amiga de Alice (não era citada no filme anterior), que tem bulimia e é forçada por Freddy a comer até explodir. A cena é grotesca, com efeitos especiais exagerados e nojentos.
Por fim, a morte curiosa é a de Mark (Joe Seely), que é sugado para dentro de uma história em quadrinhos e vira super-herói, mas perde, obviamente, para o "Super Freddy", sendo retalhado e transformando-se num monte de papel picado. O que faz toda a diferença é a assinatura de Stephen Hopkins na direção. Diferente de Chuck Russell (
parte 3) e Renny Harlin (parte 4), e assim como Wes Craven e Jack Sholder (parte 2), Hopkins sempre teve afinidade com o gênero horror. Antes de fazer esta quinta parte de "A Hora do Pesadelo", ele tinha dirigido vários episódios da série televisiva "Contos da Cripta". Depois, voltaria a trabalhar em uma continuação de filme de sucesso: "Predador 2". Hopkins consegue dar ritmo ao filme sem transformá-lo em videoclip, como fez Harlin na parte 4. Há algumas cenas verdadeiramente assustadoras, inclusive o duelo final entre Alice e Freddy, numa espécie de castelo medieval repleto de escadas e passagens que levam a lugar nenhum. No geral, entretanto, o filme perde feio na comparação com o original, já que insiste em tratar o espectador como idiota e não oferecer nenhuma novidade (a simples descrição do roteiro já mostra o que esperar). Existe, apenas, uma pequena variação na forma adotada por Freddy para matar suas vítimas. Ganha pontos por conter o exagero na carnificina, mas faz falta uma história melhorzinha, ou pelo menos uma tentativa de tentar dar outro rumo à série.
Rachel Talalay tentou este "novo rumo" na próxima parte, a sexta. E caiu do cavalo!
CURIOSIDADES- Boa parte da cena de morte de Dan, que é fundido com sua motocicleta, foi cortada pelos censores americanos por sua extrema violência. - Outras cenas sangrentas foram retiradas voluntariamente pelos produtores para que o filme recebesse uma classificação mais branda da censura, garantindo, assim, uma maior bilheteria. Estas cenas estão na versão lançada em DVD só nos Estados Unidos. - Enquanto o filme era realizado,
Wes Craven entrou na Justiça com um processo contra a New Line. Ele argumentava ter os direitos de criação do personagem Freddy Krueger, e que a produtora não estava pagando os devidos royalties. Craven perdeu a causa. - Robert Englund exigiu cinco milhões de dólares de cachê para voltar a interpretar Freddy neste filme. Trata-se da metade do orçamento desta continuação! - Este foi um dos filmes menos lucrativos da série, rendendo apenas 22 milhões de bilheteria. Em termos de público, só perdeu para a parte 7, que arrecadou míseros 18 milhões.
A Nightmare On Elm Street 5: The Dream Child (1989, EUA)Direção: Stephen HopkinsCom: Lisa Wilcox, Danny Hassel Whitby Hertford, Beatrice Boepple e Robert Englund...Duração: 90 minutos Lançado em vídeo pela Alvorada Vídeo

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