terça-feira, 3 de junho de 2008

O pesadelo final - A morte de Freddy


Texto escritio por Anderson Merisio
"O horror, o horror", já dizia o personagem de Marlon Brando em "Apocalypse Now". Pois as sábias palavras de Brando são a melhor forma de definir este ridículo caça-níqueis que revela toda a cobiça vergonhosa de uma produtora tentando tirar o máximo de proveito de sua franquia mais popular. Até imagino os executivos da New Line Cinema conversando em sua bonita e arejada sala de reuniões: "Bem pessoal, a parte 5 rendeu a metade da bilheteria da parte 4. O que vamos fazer?", pergunta um dos executivos. Outro, perdendo a oportunidade de ficar quieto, responde: "Por que não anunciamos o próximo filme como se fosse o último e matamos Freddy de vez... pelo menos por um tempo?".E assim fez a New Line. Com uma esmagadora campanha de marketing prometendo que este seria o último filme da série (hahahaha), e ainda 15 minutos em terceira dimensão para levar os pirralhos (inclusive eu, na época) para o cinema, a produtora tinha uma verdadeira mina de ouro nas mãos. Faltou só um detalhe essencial: o roteiro. Todo o filme é um erro monstruoso calcado na simples premissa de que, nos 15 minutos finais, em terceira dimensão, Freddy Krueger deveria morrer. Ninguém pensou que antes destes quinze minutos deveria haver pelo menos uns outros 75 minutos com um enredo razoável para manter a atenção do espectador. E o resultado é o desastre que é este filme, o pior da série e um dos filmes de horror mais fracos e caça-níqueis que já vi (e revi, infelizmente) na vida. A diretora Rachel Talalay foi produtora de alguns dos filmes anteriores e devia pelo menos um pouco de respeito ao personagem de Freddy, retratado o filme inteiro como um pateta que fica fazendo brincadeiras sem graça. Em alguns momentos, "Pesadelo Final" lembra uma comédia do grupo inglês Monty Python, e não um filme de horror.
O filme se passa "10 anos no futuro", em relação ao filme anterior. Freddy conseguiu exterminar todas as crianças de Springwood, mas, de alguma forma, permanece preso à cidade (isso não é bem explicado, ou eu dormi quando explicaram isso). Só existe um jovem sobrevivente da maldição, que no início tenta fugir da cidade devastada e acaba perdendo a memória ao chegar a um município vizinho. Ele é recolhido a uma instituição de jovens problemáticos dirigida pela dra. Maggie Burroughs (Lisa Zane), onde garotos-problema passam por terapia para superar o vício de drogas ou o abuso dos pais. O mistério em torno de John Doe (João Ninguém) logo vai se revelando aos poucos: ele tem um recorte de jornal que fala sobre Springwood. A psicóloga então resolve voltar à cidade levando John e três garotos que se esconderam na van para fugir da instituição - Carlos, Spencer e Tracy.
Sem crianças e adolescentes, Springwood virou uma cidade bizarra habitada por adultos esquizofrênicos, que enxergam crianças imaginárias em toda a cidade. Na escola, um professor maluco ensina a história do mundo com Freddy Krueger como personagem. São detalhes cômicos, e não assustadores, mas ninguém parou para pensar nisso na hora em que o filme estava em produção. Logo Maggie descobre sobre a lenda de Freddy Krueger e que ele estaria planejando atacar outras cidades guiado pelo seu filho, fruto de um breve casamento quando ele ainda era vivo. Inicialmente, as suspeitas recaem sobre o próprio John. Mas quando o assassino mata o jovem, Maggie tem a certeza de que é ela a filha de Freddy.
Os primeiros 75 minutos do filme são uma desculpa para as tradicionais mortes criativas, as mais cômicas e menos assustadoras de toda a série. Fã de videogames, Spencer é sugado para dentro da TV e vira personagem de um jogo, sendo espancado por Freddy, que controla os movimentos do jovem usando um joystick (a cena é patética, transformando Freddy definitvamente em piada). Para piorar, o Spencer do mundo real, fora do pesadelo, pula e se movimenta como o Spencer personagem de videogame do pesadelo! É ver para crer! Já Carlos, que usa aparelho para surdez, se vê às voltas com um Freddy malandro que tortura o jovem riscando suas unhas de navalha em um quadro negro, até fazer a cabeça da vítima explodir. Que saudades do tempo em que o assassino usava suas navalhas para matar, e não para ficar riscando um quadro negro em mais uma morte ridícula e pastelão!!!
E o que dizer de John??? Ele sonha estar caindo e Freddy corta as cordas do seu pára-quedas, fazendo com que o jovem aterrise bem em cima de uma daquelas camas de faquir, cheias de pregos. Hahahaha. Cada momentos do filme me lembra aqueles desenhos animados do Tom & Jerry ou do Papa-léguas, onde vemos freqüentemente bobagens do gênero. Mas sinceramente: faz sentido uma coisa dessas num filme de horror???Sendo as únicas sobreviventes, Maggie e Tracy voltam para a instituição, libertando Freddy da sua prisão em Springwood para matar em outras cidades. Auxiliada pelo "Doutor" (Doc) interpretado por Yaphet Kotto (meu Deus, nem se preocuparam em escrever um nome decente para o personagem!!!), Maggie resolve enfrentar o papai de igual para igual, trazendo-o para o mundo real como fez Nancy no primeiro filme. Existem ainda outras citações a desenhos animados: no final, por exemplo, a filha dá cabo do pai colocando uma banana de dinamite em seu peito!!! Hahahaha. A boa e velha babana de TNT que o Jerry freqüentemente usava para explodir o Tom. Legal seria se o Freddy ficasse com a cara cheia de fuligem preta depois da explosão! Aí sim viraria palhaçada de vez! O mais surpreendente é que todo mundo está levando o filme a sério, mesmo com o clima pateta e ridículo que impera na produção. Talvez Rachel Talalay estivesse fazendo esta continuação para os seus filhos pequenos, que achavam o Freddy muito fofo e divertido. Até tenta achar uma explicação para os poderes sobrenaturais do vilão, que teria feito um pacto com uns tais "Deuses dos Sonhos" (umas cobras demoníacas, ou algo assim) antes de morrer queimado.
O resultado deste festival de bobagem e pretensão é tão grotesco e cômico que no IMDB (o Internet Movie Data Base) "A Hora do Pesadelo 6" está cadastrado nos gêneros horror e comédia (mas de horror não tem nada, deveria ficar só como comédia).Rachel Talalay deveria ter sonhado com Freddy depois do lançamento deste filme, quando pelo menos o assassino poderia se vingar da humilhação que sofreu nesta porcaria... No fim, o mais irônico é a tagline do filme: "Eles guardaram o melhor para o final". Argh! Imagine agora quando eles lançarem o pior!!!
CURIOSIDADES- O filme começa citando uma frase do célebre filósofo Friedrich Nieztsche sobre sonhos, e emenda a popular "Bem-vinda ao horário nobre, piranha!", dita por Freddy a uma de suas vítimas no terceiro filme da série.
- Wes Craven foi o primeiro diretor cogitado para dirigir este "último" episódio. Com a sua recusa, entrou Rachel Talalay, que nas continuações anteriores era uma das produtoras. Foi sua estréia na direção (ela faria também o cult movie "Tank Girl"). - Robert Shaye, que sempre foi produtor dos filmes da série, faz uma ponta como o vendedor de passagens na estação rodoviária, no pesadelo de John. - Esta seqüência e a parte 5 são as que menos têm mortes: apenas três (sem contar a de Freddy, claro). - O efeito em 3D visto nos cinemas permitia enxergar a cabeça de Freddy vindo em direção à platéia quando seu corpo explodia, no final do filme. - Lisa Zane, atriz que interpreta a filha de Freddy no filme, é irmã de Billy Zane, o ator de "Titanic" e do fiasco "O Fantasma". - Entre as participações especiais está a de Johnny Deep, que estreou no cinema no primeiro "A Hora do Pesadelo". Ele aparece em um programa de TV mostrando "o cérebro de um drogado", ou seja, um ovo fritando, antes de ser atingido por Freddy no rosto com uma frigideira. - Humoristas famosos nos Estados Unidos, Tom Arnold e Roseanne também fazem pontas no filme, como um casal de malucos de Springwood. - Por fim, há a ponta não-creditada do roqueiro Alice Cooper, que faz um dos violentos padastros do jovem Freddy Krueger - e dá uma surra de cinta no futuro assassino. - A "power glove" que Freddy usa para matar Spencer era uma novidade tecnológica dos videogames na época em que o filme foi feito. Tratava-se de uma luva enorme com o joystick acoplado ao pulso do jogador, que não emplacou. - Nos créditos finais, aparecem cenas dos filmes anteriores da série e também uma foto de Freddy Krueger e a inscrição RIP (Rest in Peace, ou "Descanse em Paz").
Freddy's Dead: The Final Nightmar (1991, EUA)Direção: Rachel TalalayCom: Robert Englund, Lisa Zane, Yaphet Kotto, Alice Cooper e Johnny DeppDuração: 87 [insuportáveis] minutosLançado em vídeo pela América Vídeo

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