terça-feira, 3 de junho de 2008

A hora do pesadelo 2: Avingança de Freddy


Texto escritio por Anderson Merisio
A crítica odiou este filme. Os produtores odiaram este filme. Wes Craven odiou este filme. O público em geral odiou este filme. E eu gostei! Hahahahaha.Eu sei que você provavelmente está indignado comigo, pensando: "Pô, esse cara quer pensar diferente de todo mundo", ou "O tal do Guerra é do contra, só gosta do que os outros não gostam, e vice-versa". Mas o que eu posso fazer??? Confesso: gostei mesmo de "A Hora do Pesadelo 2", mesmo sendo um filme de muitos defeitos. Por sinal, foi este o primeiro filme da série que eu vi. Na infância eu infelizmente era obrigado a ver filmes fora de ordem, já que o espectador, naquela época, dependia da boa vontade das emissoras de reprisar os filmes na TV. E o mercado de vídeo ainda era muito fechado, lançando os filmes esporadicamente (não como acontece hoje em dia). Só para citar um exemplo, os filmes da série "Sexta-feira 13" eu também vi todos fora de ordem: primeiro o 4, depois o 1, o 5, o 6, o 2, o 3, o 7, o 8, o 9 e o 10. E a série " Halloween" então? Comecei vendo a parte 3 (que nem tem nada a ver com o resto), depois a 2, a 1, a 4 e depois fui em ordem. Ainda bem que estes filmes não são interligados, pois aí eu não entenderia porcaria nenhuma. Já pensou ver "O Retorno de Jedi" antes de "O Império Contra-Ataca"??? Bem, com essa mania de enrolar, acabo sempre perdendo o fim da meada. Vamos voltar ao começo do texto. Primeiro, uma análise: por que ninguém gosta desta parte 2? Xi, são tantos motivos. Alguns deles: Wes Craven deu risada quando leu o roteiro (o filme foi feito em 1985, apenas um ano depois do sucesso do original) e recusou-se a participar do projeto. O elenco é risível. Há cenas francamente cômicas, onde toda a mitologia do filme original é abandonada quando Freddy pára de atacar nos pesadelos para matar pessoas no mundo real. Em determinado momento, ele até se materializa no mundo real!
Pois é. Apesar de tudo isso, esta segunda continuação é a última da série a mostrar Freddy Krueger como um assassino sangue frio, idêntico ao do filme original. A partir da parte 3 ele vira aquele personagem desagradável sempre com uma piadinha na ponta da língua e refém dos efeitos especiais. É por isso que eu gosto tanto da parte 2, mesmo com todos os seus defeitos. Aqui temos o bom e velho Freddy, aquele vilão que dá medo, que é realmente mau, que quer sangue, que quer eviscerar brutalmente jovens adolescentes. A trama tem alguns elementos recorrentes do filme original. O início, por exemplo, recria o final originalmente previsto para o primeiro filme: um inocente ônibus de estudantes transita pelas ruas de Springwood. Um dos passageiros é o jovem Jesse Walsh. Quando todos descem do ônibus, restando apenas Jesse e duas gatinhas que riem da cara dele, algo estranho acontece: o ônibus sai da estrada e começa a andar velozmente pelo deserto. O motorista se transforma em um personagem horrendo, coberto de cicatrizes de queimaduras e com garras de navalhas em uma das mãos. As meninas gritam e o ônibus pára... equilibrado sobre dois pilares de pedra, sobre um precipício altíssimo! Trata-se de uma cena verdadeiramente aterradora, um verdadeiro pesadelo filmado. Freddy avança sobre suas jovens vítimas. Não há como escapar. O ônibus balança nos pilares, e mesmo que eles escapem pela janela, irão cair no precipício. Jesse acorda com um grito, como aconteceu com Tina no filme original. Logo ficamos sabendo que Jesse e o restante da família Walsh (pai quadradão, mãe xarope e filha pequena) mudaram-se para a mesma casa na rua Elm onde viveu Nancy, a heroína do filme principal. Aos poucos, pelas informações obtidas no filme, ficamos sabendo que Nancy enlouqueceu após ver seu namorado ser morto por Freddy no filme original, sendo internada em um manicômio (o que contraria o final do filme original). Seria muito fácil fazer um filme exatamente igual ao original, onde mais jovens sonhassem com Freddy e fossem mortos por ele. Mas o roteirista David Chaskin quis dar um novo caminho à série - ou então ele simplesmente não viu o primeiro filme! Jesse aqui é o único a ter pesadelos com Freddy Krueger durante todo o filme. Na verdade, o assassino parece não querer mais matar jovens em pesadelo. A sua idéia é usar o corpo de Jesse para exercer sua vingança, matando no mundo real. Ou seja: possuir Jesse, forçando-o a matar, sem a necessidade de suas vítimas estarem dormindo. Interessante, não?
O próprio Freddy explica isso ao jovem em um dos interessante pesadelos do início do filme. Ele diz: "Você vai ser o corpo, e eu o cérebro", e então arranca o topo da própria cabeça, mostrando seu cérebro exposto enquanto ri sadicamente. Jesse, enquanto isso, tem outros planos. Ele quer se enturmar no colégio. Arranjou uma namorada, Lisa (que parece uma jovem Meryl Streep), e uma espécie de amigo/inimigo, Grady. Esta é a uma relação ambígua durante o filme. Ao mesmo tempo em que parecem amigões, os dois saem na porrada o tempo inteiro. Em uma cena, Grady aproveita que Jesse está dormindo na sala de aula para colocar uma cobra sobre o amigo, pode isso? Se eu fizesse uma brincadeira dessas nos meus tempos de escola... Mas é inútil tentar viver uma vida social quando a gente está sendo possuído por Freddy Krueger! O roteiro acaba se complicando logo no começo, em uma das cenas mais ridículas do filme. Existe um treinador no colégio, Schneider, que é o típico sádico que adora maltratar os estudantes. Em meio a um de seus pesadelos, Jesse perambula pela cidade e vai parar, de pijama (!!!), em um bar homossexual (!!!!!!), onde encontra o próprio Schneider vestindo roupas de couro (!!!!!!). O treinador, misteriosamente, leva Jesse para o colégio, de madrugada, e o obriga a dar voltas ao redor da quadra - não se sabe porquê, pois que autoridade o treinador tem fora da escola??????? É quando Freddy possui Jesse pela primeira vez, forçando-o a matar Schneider. O assassinato acontece no mundo real, e não em um pesadelo, como no primeiro filme. Nem Jesse nem Schneider estão dormindo. Foi isso que os fãs do primeiro filme não conseguiram engolir. A propósito: este negócio todo de bar gay é um dos primeiros indícios de que esta continuação, analisada detalhadamente, tem fortes elementos homossexuais. Comecei a perceber isso quando li a teoria de um americano maluco e fã da série na Internet, e me diverti muito, apesar de concordar com alguns detalhes (voltarei a falar sobre este assunto mais tarde). Voltando ao filme, com a morte de Schneider, a própria idéia desta continuação se torna confusa: afinal, Freddy quer vingar-se dos moradores da rua Elm através de Jesse, usando o corpo do jovem para matar, ou quer se transformar no instrumento de vingança do próprio Jesse, matando quem faz mal ao rapaz - neste caso, o próprio treinador Schneider??? Saliente-se que não existia qualquer motivo para Freddy matar o treinador, ainda mais porque suas vítimas são, preferencialmente, jovens adolescentes. Será que o roteirista poderia explicar-nos o porquê desta cena toda (especialmente do suspeito negócio do bar gay)??? Bem, voltando à trama, o jovem Jesse começa a perder sua sanidade, à medida que fatos estranhos começam a acontecer na sua casa, com a sua família, em um dispensável toque de "
Poltergeist" (outra coisa que fica mal-explicada, a não ser que o roteirista queira nos fazer engolir que a casa é mal-assombrada!!!!). Em uma cena, por exemplo, o periquito da família (o pássaro, eu quis dizer; nada de malícia!) foge da gaiola, ataca o pai de Jesse e explode no ar. Trata-se de um dos momentos mais ridículos da história dos filmes de horror!!! Logo, Jesse percebe que não tem como escapar da influência maléfica de Freddy. Ele vai participar de uma festa à beira da piscina na casa de Lisa, mas, quando está para transar com a namoradinha, Freddy estraga tudo quando tenta tirar uma casquinha da garota: uma enorme língua sai da boca de Jesse sobre os seios de Lisa. Desesperado, Jesse foge deixando a fogosa garota na mão, e invade o quarto de Grady, que dorme de sunguinha. Jesse explica que anda estranho e pede para o amigo observar enquanto ele dorme. Mas é inútil: Freddy mostra que é mais forte e literalmente sai de dentro do seu "hospedeiro", num dos melhores e mais violentos momentos de toda a série - o assassino arrebenta o estômago do rapaz e sai deixando pedaços do corpo para trás!!!
Agora o bicho pega: é Freddy Krueger se materializando no mundo real, pode isso? Claro que perde toda a graça, pois os poderes e a força do personagem estão todas no mundo dos pesadelos. No mundo real, ele está mais para Jason e seus imitadores. Mesmo assim, não faz feio: Freddy fatia Grady com suas navalhas e depois ataca a festa na piscina, matando mais uns dez jovens de todas as formas possíveis, inclusive provocando incêndios sobrenaturais pela casa. Sim, a partir deste ponto o filme começa a virar palhaçada. Se no primeiro filme Freddy Krueger era um deus supremo no mundo dos sonhos, a partir de seu retorno ao mundo real ele se limita a correr e perseguir um bando de jovens à beira da piscina! É uma total reviravolta na mitologia da série, como se o roteirista pegasse a idéia inicial de
Wes Craven e mudasse tudo - o que foi corrigido a partir da terceira seqüência, quando Freddy voltou a atacar a partir dos pesadelos. Eu concordo que não foi uma boa idéia para os produtores ter tentado dar este novo rumo ao personagem, mas é inegável que o ataque do psicopata rende um momento sangrento poucas vezes igualado na série, com muitas mortes sangrentas e pânico. E é curioso ver como o psicopata se sai no "mundo real". No final, é a própria Lisa quem confronta Freddy/Jesse, na velha refinaria onde o assassino trabalhava. É um final daqueles "o amor a tudo vence", que podem ser bons em comédias românticas e dramas, mas fica totalmente fora do tom em um suposto filme de terror!!! Menos mal que o filme acaba com uma surpresa, que remete ao início do filme. Descontando todas as viajadas e momentos ridículos da trama, trata-se de um bom filme de terror, onde Freddy é mostrado como um cara mau, caramba! Na cena da festa da piscina, especialmente, ele mata a sangue frio, enfia suas navalhas nos jovens e não quer nem saber de fazer piadinhas ou falar bobagens. A cena da morte de Grady também é chocante: sem hesitar, Freddy esquarteja o jovem indefeso! É este o Freddy Krueger que Wes Craven criou, e não aquele boiola chato dos filmes seguintes (descontando a parte 7). Há ainda um momento curioso em que Jesse e Lisa encontram o diário de Nancy (a jovem sobrevivente do filme original), e lêem as suas últimas anotações, logo depois de Freddy ter matado seu namorado no primeiro filme.Ah sim, já ia esquecendo do conteúdo homo-erótico no roteiro, sobre o qual havia falado no início do texto. Bem, a verdade é que algumas cenas revelam um certo teor homossexual implícito. Vejamos:
- Primeiramente, segundo o que dizem alguns sites na Internet que se dedicam a avacalhar com filmes de todos os gêneros, neste filme Freddy Krueger parece ser uma metáfora para o desejo do jovem Jesse de assumir seu lado gay. Jesse, por sua vez, luta o filme inteiro para que isso não aconteça, mas no fim não consegue mais segurar e o outro lado "aflora" (simbolizado na cena em que Freddy sai "de dentro" do jovem!!!). - Jesse visita um bar gay (hmmm...) e encontra seu treinador, aparentemente um modelo de masculinidade e "macheza", todo vestido de couro. O treinador fica p*to (desculpem o trocadilho) e leva Jesse para o colégio, onde o obriga a dar voltas e voltas na quadra. O jovem nem precisava fazer isso, já que o treinador não tem nenhuma autoridade sobre um estudante fora da escola. Mas seu lado homossexual (representado por Freddy) obrigou-a a fazer isso, tornando-o submisso aos desejos (hmmmm...) do treinador. - Antes de matar o treinador, Freddy/Jesse arranca suas roupas e bate com uma toalha molhada em sua bunda!!! Hahahahahah! Isso não pode estar mesmo acontecendo! Toda vez que eu vejo o filme, eu rolo de dar risada com esta cena! Caramba, porque não bateu com a toalha nas costas, pelo menos??? - Quando Jesse está nos amassos com a namorada Lisa, Freddy (o lado homossexual do jovem, lembram?) se manifesta, fazendo com que Jesse deixe a garota para trás e vá dormir com Grady, o jovem "amigo". E por aí vai. Tente analisar o filme por este ângulo para ver se não há certas cenas muito "suspeitas". Bobagens à parte, Freddy Krueger, enfim, é um vilão, um assassino, um matador, exatamente como mostrado neste filme e no primeiro. E nunca um anti-herói ou um ídolo adolescente, como acabou transformado pelos produtores inescrupulosos. Por isso que este filme merece suas três estrelinhas, mesmo com todos os seus defeitos, e precisa ser visto pelos fãs com um pouquinho menos de senso crítico. O curioso é que apesar de ser tão malhado, o filme foi um sucesso: custou 3 milhões e arrecadou quase 30 milhões de bilheteria, mais até do que o original. Uma prova de que para o bem ou para o mal, todo mundo foi ver esta segunda aventura de Freddy Krueger, o que gerou uma das mais longas e lucrativas franquias do moderno cinema de horror.
CURIOSIDADES- Wes Craven foi originalmente convidado para dirigir a seqüência, mas não só dispensou o convite como ainda saiu falando aos quatro ventos que o roteiro era uma porcaria! -
Robert Englund aparece rapidamente de costas, sem a maquiagem de Freddy, como o motorista do ônibus escolar na primeira cena do filme. - O diretor Jack Sholder simplesmente não conseguia dirigir a cena em que uma enorme língua saía da boca de Mark Patton sobre os seios da sua namorada. Sabem por quê??? Ele não conseguia parar de rir, e deixou a cena para seu assistente filmar. - Kevin Yagher estreou neste filme na maquiagem da série, que fez também nas partes 3 e 4. Yagher é conhecido dos fãs de horror: ele também criou a caveirinha da série "Contos da Cripta" e o boneco Chucky, de "Brinquedo Assassino", além de dirigir a quarta seqüência da série "Hellraiser" (como os produtores exigiram mudanças no filme, ele assinou com o pseudônimo "Alan Smithee"). - O próprio produtor Robert Shaye considerou "um grande equívoco" a cena final, onde Freddy Krueger se materializa no mundo real e mata vários jovens em um churrasco. Em uma entrevista, ele confessou que esta cena deveria ter sido cortada na edição. - Na tal cena do churrasco, Freddy diz aos sobreviventes: "Vocês são todos minhas crianças agora!". A cena foi citada na parte 7, quando Robert Englund participa de um programa de auditório vestido como Freddy Krueger e diz a mesma frase para os jovens na platéia. - Os produtores tiveram que criar uma nova luva para Freddy nesta continuação. A original, usada no primeiro filme, foi roubada. - O técnico de efeitos especiais Rick Lazzarini criou um "periquito demoníaco" para a cena em que o pássaro escapa da gaiola na casa da família Walsh. Na hora de filmar, o diretor Sholder optou por um periquito real. - No início do filme, o motorista do ônibus escolar onde o herói está se transforma em Freddy e sai dirigindo por uma estrada deserta. Originalmente, o primeiro "A Hora do Pesadelo" deveria acabar desta forma. - O filme rendeu 29,9 milhões de dólares na bilheteria, mais do que o original.
A Nightmare On Elm Street 2: Freddy's Revenge (EUA, 1985) Direção: Jack Sholder Com: Mark Patton, Kim Myers, Robert Rusler, Clu Gulager, Hope Lange e Robert Englund..Duração: 97 minutos Lançado em vídeo pela Warner

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